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Bobo.

"Acho ridiculamente bobo." Perguntei o que. "Isso tudo." Sorri. Ela não especificou - e nem precisava. Sabia que ela falava de tudo: da vida, da forma como a vivia, das pessoas que conhecia, do que comia e tudo mais. "Pode rir. Você sabe que é verdade." E talvez fosse mesmo. A sequenciação dos fatos nas nossas vidas talvez seja ridiculamente boba. A atenção demasiada que damos pra coisas fúteis e desnecessárias talvez seja realmente boba. Ou talvez sejamos nós os bobos. Ironicamente, não bobos como crianças. Bobos como adultos mesmo. Crianças são mais espertas que nós nesse aspecto - e em tantos outros. Talvez seja por isso que comentam tanto sobre manter(mos) o espírito infantil mesmo depois de crescer(mos). Talvez seja porque crescemos e ficamos bobos. Ficamos desatentos, descuidados. Não, infelizmente não de uma forma boa. Ficamos estáticos. Perdemos a boa ousadia, a que nos enche de coragem e do sentimento de estarmos mesmo vivos. Talvez ela falasse de como nós buscávamos refúgio em coisas tão tolas: bebidas, cigarro, agressividade. Tão tolo como acabamos sempre descontando em alguém o que não conseguimos digerir, mesmo que seja em nós mesmos. Seja calando, ou talvez gritando demais. Alguém acaba sofrendo quando somos bobos. Talvez soframos todos em conjunto, pulsando tolice, regurgitando nossos próprios erros, boiando em nosso próprio vômito. Veja só! Gostamos da imundice que nós criamos, moramos nela, somos parte dela (ou talvez sejamos ela). "Não é verdade?" Ela sabe que estou pensando nisso. Estou sorrindo de volta. Eu sei que é verdade. Sei que somos todos bobos e que ela tem todo direito de afirmar isso em voz alta - nem dói mais. Somos sim a tolice pulsante. Os erros de nossos antepassados e os nossos próprios erros. Somos o mundo em sua imundice. "Somos sim ridiculamente bobos.", digo a ela. "Bobos o suficiente para sermos o de melhor e o de pior que há no mundo. Bobos o suficiente para sermos nossos próprios demônios e anjos. Para saber ao mesmo tempo apreciar uma carnificina e um por do sol. Somos a podridão eterna: criamos pele nova, criamos o amor, só para apodrecê-lo. Mas sempre há o novo. Sempre há o bom. Somos todos bobos, mas somos todos curáveis. A tolice só dói enquanto deixamos doer. Enquanto comungamos da imundice e contribuímos para ela. Ser bobo é ao mesmo tempo questão de opção e uma obrigação. Apenas depende de que lado da bobiça você está". E agora ela sorri. Ela sabe que estamos todos certos... 

N.M.

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