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Quem é voce, Alasca? - Análise

   Fazer a analise de um livro é uma coisa complicada. Muitas vezes as pessoas acabam confundindo uma critica real com o simples fato de não gostarem do gênero analisado e acabam cometendo uma injustiça com o autor e a obra.
Falar que o texto tem contradições, inconsistências ou furos na historia é uma coisa, mas dizer por exemplo que Senhor dos Anéis é melhor que Harry Potter pelo simples fato da pessoa não simpatizar com o gênero do segundo livro é uma idiotice. Infelizmente esse julgamento é relativamente comum e uma das vitimas atuais é John Green, autor que construiu sua escada para a fama lançando um sucesso atrás de outro conseguindo ter todos os seus livros entre os os mais vendidos na lista do The New York Times. Foi com seu ultimo lançamento, A Culpa É das Estrelas, que o autor acabou sendo chamado de "modinha" e de baixa qualidade fazendo parecer que todos os seus sucessos anteriores de nada valeram. Bem, digo que se for uma modinha ela já dura a bastante tempo pois o primeiro livro de John foi lançado em 2005 e assim como todos os outros fez sucesso imediato.

Titulo: Quem é você, Alasca?
Titulo Original: Looking for Alaska
Autor: John Green
Lançamento: EUA 2005, BR 2010
Paginas: 229
Editora: WMF Martins Fontes





Miles Halter é um jovem introspectivo, infeliz e solitário com o estranho habito de colecionar em sua mente as ultimas palavras de pessoas famosas, algo que para outras pessoas poderia soar mórbido mas para ele é como colecionar figurinhas ou livros.

"Saio em busca de um Grande Talvez"
                                         - François Rabelais

Tentando encontrar seu grande talvez, suas infinitas possibilidades inesperadas além do cotidiano em que já vive, algo que mudaria definitivamente sua vida, Miles se transfere para o colégio interno Culver Creek, Alabama, onde planeja começar o ano de forma diferente de todos os que já começou antes.
'Quem é você, Alasca?' nos apresenta duas questões filosóficas diretas. A primeira delas são as ultimas palavras de Sir François, "Saio em busca de um Grande Talvez". O livro em momento algum tenta explicar o significa da frase e o que seria o grande talvez, e deixa a cargo do leitor procurar na vida de Miles a resposta. 

Não demorou muito para Miles perceber que a vida na escola não seria como esperava, o quarto luxuoso que tinha imaginado não era nada além de paredes brancas com uma beliche e poucas mobilias, fora do calor infernal típico do Alabama. Coisas que não eram necessariamente ruins visto que a emoção e as surpresas da vida encontram-se no inesperado e no imprevisto. Ocupando o espaço superior no beliche esta seu companheiro de quarto, Chip Martin (o primeiro amigo), também conhecido como Coronel, que introduz Miles ao funcionamento da escola, ás regras e aos outros estudantes de Creek.

Contada do ponto de vista de Miles, a historia tem a todo momento um ar cômico e irônico que refletem a própria personalidade do garoto com um certo complexo de inferioridade.A leitura é simples e fácil, direta e em uma linguagem adolescente como a própria mente de Miles é. Muitos criticam o livro ou outras obras de John por não serem rebuscadas e cheias de palavras complicadas como os "bons clássicos" mas a realidade é que ele consegue representar de forma expandida os pensamentos de um adolescente com os hormônios a flor da pele.

"Se o Coronel pensava que me chamar de amigo ia me fazer ficar do lado dele, bem, ele estava certo."
                                        -Miles Halter

O inicio da vida escolar é complicada e Miles logo percebe que existe uma forte rivalidade entre os alunos mais pobres, que estudam com bolsa ou dormem permanentemente nos dormitórios da escola,  e os chamados 'Guerreiros de Dia de Semana', que compõe a parte mais rica que deixava o campus frequentemente aos fins de semana para se encontrar com os pais. Coronel logo apelida Miles de 'Gordo', uma grande piada com o fato do garoto na realidade ser magro ao extremo, e joga ele na disputa e rivalidade entre os dois polos de alunos. Miles por sua vez aceita o apelido encarando a situação como prova definitiva de que ele tinha feito um amigo e decide apoiar Coronel em sua cruzada contra os Guerreiros de Dia de Semana.

Mas eu quase não o ouvi, pois diante de mim estava a garota mais linda da historia da humanidade, com jeans cortados à altura das coxas e uma camiseta regata cor de pêssego. [...] Não era apenas linda, era gostosa, com os seios comprimidos pela camiseta regata, as pernas dobradas movendo-se para a frente e para trás embaixo do balanço, os chinelos pendurados nos dedos dos pés com unhas pintadas de azul-claro.
                                       - Miles Halter

É nesse ponto que Alasca, a garota que da titulo ao livro, aparece na historia. Alasca Young (A primeira garota) é a personagem pela qual John Green nos passa as maiores questões apresentadas na historia e também é ao redor dela que o mundo de Miles passa a girar a medida que o garoto se apaixona cada vez mais. De temperamento forte, feminista, bipolar, enigmática, questionadora, bonita e inteligente a garota facilmente conquista o leitor fazendo com que tentemos entender cada vez mais suas motivações e conhece-la melhor. Além dela ainda temos mais um personagem que compõe o quarteto principal da historia, Takume,o japonês que gosta de rap e não entende nada de tecnologia.

"Você é inteligente como o Coronel, só que mais calado. E mais bonitinho, mas não me ouviu dizer isso, porque gosto do meu namorado."
                                     - Alasca Young

Logo após a apresentação Alasca se impressiona com o hobbie do Gordo de colecionar ultimas palavras e o questiona sobre as ultimas palavras de  Simon Bolivar, personagem do livro 'o general no seu labirinto' de Gabriel Garcia Márquez. Gordo, sem saber quais eram, recebe como resposta 'Droga, Como sairei deste labirinto?', e então essas palavras se tornam o segundo questionamento filosófico direto apresentado na historia. O que é o labirinto e como sair dele? 

Quem é você, Alasca? não tem um objetivo exato. Não temos uma meta como levar os hobbits para Isengard, queimar o anel ou chegar ate a grande montanha. Aqui nos simplesmente estamos vendo o cotidiano de um grupo de amigos em uma escola e talvez seja por causa dessa falta de objetivo que o livro se torne tão imersivo. Os personagens extremamente bem construidos com personalidades próprias e criveis, as situações vividas e a própria forma como a historia é contada faz o leitor querer devorar todo o livro ate chegar ao final sem parar momento algum, porem, ao chegar ao final, ainda que tenha se passado somente algumas horas, a sensação é de que se passaram meses e realmente estivemos ao lado de Takume, Alasca, Miles e Coronel todo aquele tempo. 

"Se tem uma coisa que eu se é quando acabei de pisar no mijo de outro homem."
                                 -Chip Martin

O grupo tenta ensinar ao novato uma lição, a lealdade, informando que não importa o que acontecer, quão forte o trote seja ou caso sejam pegos fazendo algo errado, ele deve ficar calado e não denunciar ninguém. Os bolsistas odiavam os Guerreiros de dia da Semana, e os Guerreiros odiavam os Bolsistas, porem mais do que odiar um ao outro os dois lados odiavam delatores. Logo Miles se encontra passando por diversas experiências adolescentes como o sexo, cigarros, bebidas, estudos, independência e um inesperado apreço pelas aulas de religião dadas por um professor velho e rabugento. O autor relata com excelência essas experiências e também a forma como Miles lida com elas enfrentando as próprias inseguranças, seu amor recém descoberto, o perdão para com os outros e o próprio fato de pela primeira vez na vida ele ter amigos.  

Nos passamos a maior parte do livro tentando encontrar a saída do labirinto com Miles enquanto sem perceber respondemos ao primeiro questionamento proposto, encontramos nas aventuras vividas o Grande Talvez e então percebemos como Miles se desenvolveu mentalmente do ponto em que chegou a faculdade ate a ultima pagina do livro. 

Não vou dar spoilers nesse texto pois isso estragaria totalmente o livro, não vou dizer a saída para o labirinto ou qual o final, mas ele é filosófico e grandioso e com toda certeza ao virar a ultima pagina você vai ser uma pessoa ao menos um pouco diferente de quando abriu o volume pela primeira vez. Talvez Miles seja um personagem tão crível e realista por ser baseado no próprio autor, um adolescente como qualquer outro que enfrenta os dramas bobos da vida e se desenvolve ao ter decepções e sofrimentos.

Quanto ao volume, a edição que eu tenho (e presente da minha linda namorada) é a de capa preta. Não sei como é a outra capa lançada pela WMF mas creio que o conteúdo interno seja o mesmo. Assim que tocamos o livro logo percebemos que o material da capa parece ser um pouco estranho dando uma sensação de estar tocando algo macio como veludo. é gostoso e agradável mas requer certo cuidado para não acabar riscando ou sujando (o que acredite, ocorre facilmente). A impressão é boa mas sem grandes detalhes de diagramação. O texto ocupa quase toda a dimensão da pagina sem deixar muitas bordas, e os títulos dos capítulos são uma contagem regressiva de dias na primeira parte do livro e uma contagem progressiva na segunda metade. Apesar da parte interna não ser tão impressionante, todas as capas sem duvidas podem ser chamadas de obras de arte e depois de fazer uma rápida pesquisa na internet decidi que um dos meus objetivos de vida é conseguir ao menos um exemplar de cada capa não importa o idioma. 


 "Passamos a vida inteira no labirinto, perdidos, pensando em como um dia conseguiremos escapar e em quanto será legal. Imaginar esse futuro é o que nos impulsiona para a frente, mas nunca fazemos nada. Simplesmente usamos o futuro para escapar do presente."
                                         - Alasca Young

Minhas considerações finais sobre 'Quem é você, Alasca?' são as seguintes: Se esse é o primeiro livro de John Green, ele conseguiu lançar logo de cara uma obra prima. Um livro único no mercado com uma forte carga emocional e uma historia perfeita. Escrevendo esse texto consigo pensar e me lembrar das aventuras vividas como minha próprias aventuras e chamar os personagens de amigos sem me sentir estranho. Não sei qual a mágica que John usou ao escrever essa historia mas sem duvidas ela é imperdível

Atenção, o texto abaixo contem spoilers sobre o final do livro, se você não leu ainda o livro eu peço que ignore e termine sua leitura antes de retornar.

Análise a parte, John Green colocou em minha vida mais uma duvida eterna. Agora se minha cabeça se embolava ao decidir se Capitu traiu ou não Bentinho, também vou me embolar ao decidir se Alasca se matou ou não. Confesso que eu chorei. Eu chorei como uma criança pequena ao chegar na segunda metade do livro e naquele momento eu odiava John Green com mais força do que qualquer coisa que eu já tinha sentido. Foram necessárias algumas horas para eu me acalmar e então voltar a pensar racionalmente me perguntando como diabos Green conseguiu criar um livro tão imersivo. Eu não acho que ela tenha se matado. Não consigo aceitar essa realidade. Ela era decidida demais e não acreditava em coisas como a sorte ou o destino. Alasca trouxe junto de sua morte a resposta para o labirinto  o desenvolvimento de uma serie de pensamentos diferentes. Sem sombras de duvida é um dos livros mais impressionantes que já li nesse quesito.

"Se as pessoas fossem chuva. Eu seria garoa, e ela um furacão."
                                   - Miles Halter


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